Olá leitores,
Quem já visitou ou mora próximo da cidade de Yokohama (assim como eu), sempre se depara com estátuas, pinturas, chaveiros, decorações ou lembrancinhas com um par de sapatinhos vermelhos. Pelas ruas, circula um ônibus turístico chamado “Akai Kutsu” (traduzindo sapatos vermelhos) e existe até uma canção muito famosa entre as crianças, escrita por Ujou Noguchi, que leva o mesmo nome. Muito coincidência, não? Aquilo sempre me intrigou, afinal, qual a razão de, Yokohama, uma cidade portuária e com uma paisagem linda, ter como “símbolo” da cidade um par de sapatos vermelhos? Achava isso tudo muito estranho, deveria ter um motivo muito forte, mas qual? Fui pesquisar e enfim encontrei a resposta. Já adianto, a história é triste, mas resolvi compartilhá-la com vocês.
Calçada em Yokohama com o desenho dos sapatinhos vermelhos |
A dona dos famosos sapatinhos vermelhos que tornou-se um dos símbolos da cidade e inspirou a música de Noguchi, foi a jovem Kimi-chan, como ficou carinhosamente conhecida. Kimi Iwasaki nasceu em 1902 na cidade de Fujimimura, província de Shizuoka, atualmente Shimizu Miyakami, e faleceu com apenas nove anos de idade. Kayo, sua mãe, casou-se com Shiro Suzuki. Decidiram então se mudar para a região de Hokkaido, no norte do Japão, para trabalhar como fazendeiros. Como a vida na fazenda naquela época era muita dura, Kayo preferiu deixar Kimi-chan, com apenas três anos de idade, aos cuidados de um missionário americano, Charles Huit, e sua esposa.
A vida não foi nada fácil para o casal que trabalhava muito dia após dia. O irmão de Kayo, que morava em Shizuoka, mudou-se para Hokkaido na tentativa de ajudá-los, mas acabou falecendo por excesso de trabalho. Algum tempo depois, um incêndio destruiu a casa onde moravam e então resolveram recomeçar a vida mais uma vez em Sapporo, capital de Hokkaido. Shiro conseguiu um emprego na Hokumei Shinpo, empresa jornalística, onde conheceu o poeta Ujou Noguchi, seu colega de trabalho. Ao ouvir as diversas histórias do casal, inclusive a de como a filha deles deveria estar feliz vivendo na América com os Huits, decidiu compor a canção.
Enquanto Kayo vivia na doce ilusão de que sua filha estaria feliz do outro lado do mundo, Kimi-chan jamais havia pisado no navio que de fato a levaria para a América. Quando os Huits encerraram sua missão no Japão e decidiram retornar à sua terra natal, Kimi estava com tuberculose. Foi deixada aos cuidados do orfanato metodista Toriizaka Kyokai, em Tokyo, mas acabou falecendo em 15 de setembro de 1911. Seu corpo foi sepultado na lápide de Toriizaka Kyokai, no Cemitério Aoyama Reien, em Tokyo, e está aberto para visitação pública.
Kimi Iwasaki tornou-se um símbolo da criança desfavorecida e por isso diversas homenagens são realizadas. Em novembro de 1979, no Yamashita Koen, em Yokohama, foi erguida uma estátua da “Menina dos Sapatos Vermelhos”, olhando para o mar, como se estivesse esperando a chegada do navio que a levaria para a América.
Uma curiosidade: Existem pelo menos oito estátuas de Kimi-chan no Japão e uma nos Estados Unidos no Porto de San Diego.
Obrigada por ler,
Abraços,
Thais Fioruci
Referência:
Revista Alternativa. Edição de 30 de Agosto de 2012
Muito triste mesmo a história da menina dos sapatos vermelhos! E os pais, será que souberam da morte da filha?
Olá Denise!
Acredito que sim … deve ter sido um choque para eles. Bem triste a história.
Abs
Thais Fioruci